Dia tenso. Semana tensa. Hora extra no caboclo

Ele é médico ou trabalha com TI?

Acho que vocês já ouviram falar que um médico tem que ser casado com um médico, por que a vida de plantões, telefonemas em horas impróprias, imprevistos o tempo todo sempre atrapalham e o parceiro que não leva a mesma vida não se acostuma facilmente.
Acontece que este pensamento só existia até TI aparecer. Tenho médicos na família e sei que não é uma vida simples. Quando não estão trabalhando, estão estudando. Poxa, mas essa não é a vida de TI? As semelhanças são inúmeras, como trabalhar de final de semana, não deixar o servidor (paciente) “morrer”, cuidar da saúde da tecnologia, etc. Levar trabalho para casa já é uma diferença que só tem em TI, quando o profissional “ganha” acesso remoto a empresa e pode resolver o problema de casa. Seria isso uma forma de deixar o funcionário mais livre ou mais preso? Na minha opinião, preso com certeza.
Ouvi uma história de um cara que não aguentava mais trabalhar e disse “ou férias ou morte!”. O superior dele ofereceu meia férias. “Você pode tirar férias, mas fique conectado”. Seria isso férias de verdade? Se ele não reinvindicasse que acessaria uma vez de manhã e outra a tarde para responder e-mails, poderia estar em outra já.
Imprevisto

Marquei um compromisso para hoje de manhã e teria que acordas as 4h da madrugada. Tudo certo, arrumado e to preparado para dormir as 22h de ontem, e me ligam: “Eder, o serviço Xys tá alarmando”, e respondi “Ah! E vocês ligaram pra mais alguém?”; “Sim, mas só você atendeu”. Bom, moro perto, to precisando levantar uma grana e disse “Tá, dou um pulo aí”. Cheguei no serviço que é perto, e cheguei em casa 2h e pouco. Sem chance de acordar as 4h. Incrível como certas coisas “rapidinhas” acabam com a vida da gente.
Até que ponto trabalhar e dedicar-se a empresa é interessante? Essa é uma pergunta que eu não sei responder. Trabalhei em diversas e sempre dediquei-me aos projetos com qualquer responsabilidade atribuída a mim. Sempre fiz hora extra quando precisou e sempre que fui recompensado financeiramente por isso. Ainda assim, perdi bastante da vida social. Como diz a camiseta “mv mysociallife /dev/null”, mandando a vida social para o limbo.
Média 7

Li em um livro “Histórias que podem mudar a sua vida” onde a autora conta histórias da vida dela e dos conselhos da avó. Achei um conselho interessante para trazer equilíbrio a vida. Dizia que você deve ser uma pessoa média 7. Em uma chula interpretação, diz que é melhor ser bom com amigos, com a família, com o trabalho, com os estudos do que ter ser ótimo no trabalho e estudos e ruim na família e amigos. Claro que há etapas na vida, em que você terá que dar atenção a um específico, mas você deve sempre lembrar de voltar a ter uma média 7. Um livro que vale a pena por esse e outros conselhos.
Quando comecei a trabalhar como consultor, não havia tempo ruim. Tive destaque na equipe pelos trabalhos realizados. O cliente também elogiou algumas vezes, algo raro em TI. Fazia diversas horas extras, trabalhava finais de semana e sumia do mundo para o trabalho. Até que a empresa começou a passar por tempos de crise e começou a cortar custos, começando pelos recursos. A demanda de trabalho diminuiu bastante e tínhamos poucos projetos. Até que precisaram mandar mais um embora, e o método que estavam utilizando era: duas pessoas eram analisadas entre os gerentes e uma era mandada embora. Mandaram minha ficha e a de uma pessoa parente do gerentão. As diferenças técnicas eram óbvias. Não era interessante nem comercialmente nem tecnicamente mandar eu embora. Advinha quem ficou? Acabou que fui parar na consultoria concorrente, e os poucos projetos que estavam indo para a consultoria anterior foram junto comigo. A pessoa que mandou embora não quis saber se seria interessante para a empresa ter ou não eu ali e fez eu pensar que era a empresa que não dava a mínima para os funcionários, o que na verdade é esta pessoa pensou nos próprios interesses e não nos da empresa, o que simplificou na hora de escolher. Lembrei que as empresas são formadas por pessoas e elas são responsáveis por tomar atitudes que possam melhorar o ambiente como um todo ou fazem escolhas em benefício próprio.
Depois deste fato, parei para poder analisar. Eu já estava há 5 anos sem férias e ficando doidão. Eu me dei 3 meses de férias para pensar no contexto geral. Sei que infelizmente muitos não podem se dar este “luxo”, mas vale muito a pena. Pude equilibrar melhor minha vida e meus objetivos. Perdi dinheiro mas ganhei muito auto conhecimento. Desde então dedico-me ao trabalho o que acho que não vai comprometer outras áreas da minha vida. Não deixei de dedicar-me aos projetos e nem de fazer hora extra, mas deixei de falar “sim” sempre para o trabalho.
Trabalhe com prudência

Trabalhar e ter dinheiro é muito bom. Poder comprar o que você busca também, mas não é tudo. Dinheiro traz felicidade com certeza, mas desde que venha acompanhado de fatores importantes como família, saúde e amigos. E sou grato por poder aproveitar desta maneira. Saindo do trabalho, a chavinha é desligada e abre espaço para todo o resto, para a vida. Uma escolha financeiramente boa pode não ser a melhor escolha para todos os outros campos, por isso pese todos os fatores antes de aceitar se vender. Só trabalho também não sustenta. Como eu ouvi uma vez, se quer trabalhar de graça, abra uma ONG.
Bom galera é isso. Um alerta básico a favor da vida sã.
Com o tempo curto, o post vale para mim também.
Um abraço e até Terça que vem.
Eder